Walleria Suri Conta Sua Trajetória De Luta Pela Inclusão E Diversidade
Para encerrar o Mês do Orgulho LGBTQIA+, a Associação dos Deficientes Visuais de Canoas teve a oportunidade de conversar com a Walleria Suri, uma mulher transgênero, deficiente visual e ativista social. Suri, como gosta de ser chamada, contou um pouco sobre sua trajetória e os desafios que enfrentou em busca da inclusão e respeito à diversidade.
Suri tem 44 anos, é estudante de Direito e trabalha com consultoria corporativa na área de inclusão e diversidade. Sua vida foi marcada por muitas batalhas internas e externas. Aos 16 anos teve a perda da visão, que foi ocasionada por uma retinose pigmentar que causou a degeneração da retina.
Por mais que tivesse passado boa parte da vida sem se reconhecer no gênero de nascimento, foi somente aos 34 anos que Suri assumiu sua identidade como uma mulher trans. De acordo com ela, o fato de ter se tornado uma pessoa com deficiência, também fez com que demorasse para conseguir assumir quem realmente era. “Perder a visão foi um fator de exclusão ainda maior, pois sabia que teria que conviver com dois preconceitos. Era uma luta interna gigantesca. Mas aos 34 anos assumi minha identidade de gênero, pois o meu dia já terminava ao amanhecer, quando eu acordava e tinha que colocar uma roupa masculina”, destacou.
Para Suri, ao assumir a identidade de gênero, ela conseguiu se tornar protagonista da própria existência. Apesar das inúmeras perdas que teve – entre elas, do emprego – e de pessoas que se afastaram, ela encontrou uma força interna muito grande. Ela afirmou que foi o momento em que disse: “não vou me negar mais”.
Um dos pontos abordados por Suri durante a conversa foi a questão da prostituição. O mercado de trabalho é fechado para as pessoas LGBTQIA+, em especial, para as pessoas trans. Em muitos casos, para as mulheres transgêneros, a única alternativa de sobrevivência é a prostituição. “São mulheres que perderam emprego, moradia e aceitam viver da prostituição. É importante que as pessoas entendam que ninguém escolhe uma vida de segregação. É algo de existência”, relatou.
A questão do ativismo social foi um divisor de águas na sua vida. Quando assumiu sua identidade de gênero, Suri buscou outras pessoas que vivem isso e passou a participar de grupos de pessoas trans, se envolveu com a luta, onde foi uma das fundadoras de um grupo LGBTQIA+ e, também, passou a integrar grupo de lutas pelas pessoas com deficiência. Para ela é um desafio conviver com dois universos. “É como se eu ocupasse um não-lugar permanente, pois sempre ocupo o lugar da diferença. Nos grupos de pessoas com deficiência, eu sou a mulher trans, nos grupos LGBTQIA+, eu sou a deficiente visual. A grande missão é que esses dois universos, com coisas em comum, possam ser observados de outra forma pela sociedade, que ainda é muito discriminatória e preconceituosa”, acrescentou.
Através do ativismo social, Suri acredita que contribui positivamente para o caminho de outras meninas, pois no seu processo de transição muitas pessoas estenderam a mão e hoje ela pode ajudar outras pessoas. Ela acredita que ser uma mulher trans e deficiente visual é uma força maior de resistência, sendo a luta da sua vida.
Texto: Daniele Brito - Jornalista (MTB - 18233)